quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Uma pessoa se mata a cada 40 segundos, diz OMS em relatório inédito

Um relatório inédito divulgado nesta quinta-feira pela OMS (Organização Mundial da Saúde) indica que uma pessoa se mata no mundo a cada 40 segundos.
O documento, que reúne dados compilados em dez anos de pesquisas sobre o suicidio ao redor do mundo, descreve a questão como um grave problema de saúde pública, frequentemente cercado de tabus, que precisa ser enfrentado pelas autoridades.
A OMS estima que 800 mil pessoas se suicidam por ano em todo o planeta. Essa é a segunda maior causa de morte em pessoas entre 15 e 29 anos, enquanto que os mais de 70 anos são aqueles que mais frequentemente se tornam suicidas
Apesar disso, apenas 28 países têm uma estratégia nacional de prevenção de suicídios.
Por meio de nota, o Governo Federal informou à BBC Brasil que é o Brasil dos países que conta com uma política nacional nesse sentido, oferecendo "acompanhamento psicológico e psicoterápico, incluindo terapia ocupacional, bem como assistência psiquiátrica hospitalar".

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Nas escolas

A organização diz o estigma social associado a desordens mentais impede pessoas de buscar ajuda e, em último caso, acaba levando muitas pessoas a atentar contra a própria vida.
Por isso, a OMS está pedindo que os diferentes países ofereçam mais apoio às pessoas que já tentaram alguma vez se matar e que, por isso, fazem parte de um grupo de maior risco.
A meta estabelecida pela organização é reduzir, em 10%, a taxa de suicídio mundial até 2020.

No relatório, a OMS também ataca a mídia, dizendo que publicar notícias com detalhes sobre suicídios estimula outras pessoas a também tentar se matar. Isso teria acontecido recentemente com a cobertura do suicídio do ator hollywoodiano Robin Williams.
Outro ponto levantado pela organização é a necessidade de limitar o acesso das pessoas a armas de fogo e produtos químicos letais.
“Não importa qual é a política adotada pelo país em termos de prevenção ao suicídio, medidas efetivas podem ser tomadas, mesmo que seja em nível local e em pequena escala”, diz Alexandra Fleischmann, cientista do departamento de saúde mental de abuso de substâncias da OMS.
Ativistas ressaltam também a necessidade de falar mais sobre o assunto nas escolas.
“Eu acho que é necessário haver mais conscientização pública sobre o suicídio e sobre como abordar as pessoas que podem estar tendo pensamentos e sensações suicidas”, diz Jonny Benjamim, um ativista britânico que participa de campanhas contra o suicídio na Grã-Bretanha.
“Muito poucos de nós sabe como reagir quando se depara com uma pessoa que pode estar em risco.”
“Eu acho que é preciso haver muito mais conscientização pública e muito mais educação nas escolas também, já que as estatísticas mostram que os jovens estão sujeitos a um risco particulamente alto de acabar com suas próprias vidas”, completou.

Dia de volta às aulas é o que mais tem suicídio de jovens no Japão

Fonte: BBC

No Japão, a volta às aulas no segundo semestre é marcada por tragédias: segundo o governo japonês, o dia 1º de setembro é historicamente o dia do ano em que o maior número de jovens com menos de 18 anos comete suicídio.
De 1972 a 2013, mais de 18 mil crianças se suicidaram. Em média anual, foram 92 no dia 31 de agosto, 131, no dia 1º de setembro e outros 94, no dia 2.
No ano passado, o Japão registrou pela primeira vez o suicídio como primeira causa de morte para pessoas entre 10 e 19 anos.
A volta às aulas em abril também marca um pico no número de mortes de crianças.
Assustado com as estatísticas, um bibliotecário da cidade de Kamakura causou polêmica ao tuitar recentemente:
"O segundo semestre está quase chegando. Se você está pensando em se matar, porque você odeia a escola tanto, por que não vem para cá? Temos quadrinhos e romances leves. Ninguém vai brigar com você se passar o dia inteiro aqui. Lembre-se de nós como um refúgio, se estiver pensando em escolher a morte em vez da escola."

'Armadura pesada'

Em apenas 24 horas, a nota de Maho Kawai foi retuitada mais de 60 mil vezes.
A iniciativa foi criticada, já que na prática se trata de um funcionário municipal incentivando crianças a não irem à escola. Mas para muitos, ele pode ter ajudado a salvar vidas.
"O meu uniforme escolar parecia tão pesado quanto uma armadura. Não podia aguentar o clima da escola, o meu coração disparava. Pensei em me matar, porque teria sido mais fácil", escreveu o aluno Masa, cujo nome real não pode ser publicado para preservar a sua identidade.
Ele afirma que, não fosse a mãe compreensiva, que o deixou ficar em casa "matando aula", teria se suicidado no dia 1º de setembro.
A declaração de Masa foi dada a um jornal para crianças que decidem não ir à escola.
"Começamos essa organização não-governamental há 17 anos, porque em 1997, tivemos três incidentes chocantes envolvendo alunos de escolas pouco antes do começo das aulas", afirmou o editor da publicação, Shikoh Ishi.
Duas das crianças citadas por Ishi se mataram no dia 31 de agosto. Mais ou menos na mesma época, outros três alunos atearam fogo à escola que frequentavam, porque não queriam voltar às aulas.
"Foi aí que percebemos como havia crianças desesperadas e queríamos dar o recado de que não existe esta escolha entre escola ou a morte", disse Ishi.

Apoio a suicidas

Para muitas crianças japonesas, a competitividade da sociedade japonesa é insuportável.
O governo japonês também lançou uma série de iniciativas - entre linhas telefônicas e outros serviços - para dar apoio a potenciais suicidas de todas as idades.
Mesmo assim, na semana passada, um jovem de 13 anos se matou no dia da cerimônia de abertura do segundo semestre.
O próprio Ishi chegou muito perto de se matar nesta idade.
"Me sentia desamparado, porque odiava todas as regras, não só as da escola, mas também aquelas entre as crianças. Por exemplo, você precisa observar cuidadosamente a estrutura de poder para evitar os bullies", disse. "Mesmo assim, se você decide não se juntar a eles, corre o risco de virar a próxima vítima."
Para ele, no entanto, o problema maior é a competitividade da sociedade japonesa. Ele próprio começou a pensar em suicídio quando não conseguiu entrar em uma escola de elite.
"O pior de tudo é uma sociedade competitiva, na qual você tem que derrotar os seus amigos."
Ishi acrescenta que, em japonês, o termo usado para exames de admissão inclui a palavra "guerra".
O que o salvou da morte foi que os seus pais encontraram o bilhete de suicídio e não o obrigaram a ir à escola.
"Quero que as crianças saibam que você pode escapar da escola, e que as coisas vão melhorar."