sábado, 18 de julho de 2020

Sabina Spielrein, pioneira da psicanálise


No ano de 1904 pela primeira vez se realizou um tratamento psicanalítico fora da cidade de Viena e sem a supervisão direta de Sigmund Freud, o fundador da ainda jovem psicanálise. O médico a aplicar o tratamento era Carl Gustav Jung, discípulo de Eugene Bleuler, diretor da Clínica do Hospital Burghölzli, ligada à Universidade de Zurique, na Suíça. Sua paciente era a jovem russa Sabina Spielrein.
Foi esse tratamento que levou a que se estabelecesse a relação entre Freud e seu mais célebre discípulo e posterior dissidente, fundador da psicologia analítica, Jung. Muito mais se fala desse tratamento, contudo, retratado, por exemplo, no filme de David Cronenberg, “Um método perigoso”, do que do impressionante e brilhante destino de sua paciente, Sabina Spielrein. Não deixa de ser tristemente representativo de nossa sociedade que essa mulher seja lembrada muito mais pelo fato de ter sido amante de Jung do que pelas contribuições fundamentais que deu à psicanálise e outras áreas do conhecimento.

O “esquecimento” de Sabine Spielrein por cerca de sessenta anos da história da psicanálise, e na qual ainda não foi reinserida com a justiça devida, não é um mero acaso, mas é uma expressão bastante nítida de como uma sociedade patriarcal e machista se manifesta em cada tentativa das mulheres de furar esse cerco. Assim, foi apenas em 1977, quando o analista junguiano Aldo Carotenuto publicou as cartas trocadas entre Sabina, Freud e Jung que ela voltou a ser discutida, ainda que o peso da “anedota” de seu caso amoroso com Jung tenha, mais uma vez, revelado o peso do patriarcado, deixando a obra de Spielrein em segundo plano.

A “segunda analista”

Sabina não foi a primeira mulher a penetrar o então restrito círculo dos pioneiros da psicanálise que se reuniu em torno de Freud. Dois anos após a fundação da Sociedade Psicanalítica de Viena, ocorrida em 1908 com vinte e dois membros – todos homens – foi proposto, por iniciativa de Paul Federn, a admissão da primeira mulher: Margarete Hilferding. Além de uma das primeiras mulheres a se formar na Faculdade de Medicina de Viena, era militante socialista no Partido Social-Democrata da Áustria (SPD), junto a seu companheiro, o célebre economista Rudolf Hilferding, cujo livro “O Capital Financeiro” foi uma das principais fontes econômicas para “O Imperialismo”, de Lênin. É provável que não apenas a condição de mulher, mas também a de militante socialista, tenha pesado para levantar a objeção de Isidor Sadger, membro da sociedade. Freud, então, declarou que seria uma “grosseira inconsistência” se as mulheres não pudessem, por princípio, fazer parte da sociedade. Então, precedendo a votação sobre a adesão específica de Margarete Hilferding, há uma votação sobre se seriam aceitas mulheres na sociedade: a adesão destas é aceita por onze votos a favor e três contra.

Finalmente, na reunião de 27 de abril de 1910 é votada a adesão de Hilferding, após uma discussão em que as posições expressam uma impressionante misoginia, inclusive por parte dos que defendem a aceitação de Hilferding. Inclusive o próprio Freud, defendendo a aceitação da candidata, chega a afirmar que “a mulher nada ganha em estudar, pois, no conjunto, não melhorará por esse caminho, pois as mulheres não podem igualar-se aos homens na obtenção da sublimação da sexualidade”. No entanto, também afirma que na misoginia dos homens há uma atitude infantil. De acordo com Elisabeth Roudinesco, a opinião de Freud sobre a menor capacidade de sublimação das mulheres será alterada no futuro. A ata da reunião é descrita pormenorizadamente por Renata Cromberg em seu excelente artigo “Primeiras psicanalistas”.

É interessante notar que, apesar de um posicionamento político francamente conservador, e de posições por vezes problemáticas sobre o papel das mulheres, Freud tenha defendido enfaticamente a admissão das mulheres na psicanálise, bem como em outras ocasiões defendido que essas deveriam ter um papel protagonista para o estudo do psiquismo das mulheres em questões que ainda considerava não estudadas profundamente. Dessa vez, a opinião de Freud prevaleceu contra o obscurantismo de alguns de seus colegas, mas nem sempre foi assim: quanto à admissão de homossexuais, ele teve seu voto vencido, tendo a IPA (International Psychoanalytical Association) rejeitado sua admissão como psicanalistas, com uma regra que nunca foi escrita mas que barrou o acesso de homossexuais à formação psicanalítica por décadas a partir de 1921. Ainda hoje, a homofobia persiste com força, ainda que não ouse se proclamar tão abertamente, na maior parte das associações psicanalíticas. Outra votação em que Freud quase foi derrotado foi em relação a não admitir a entrada da Sociedade de Psicanálise de Moscou em decorrência do governo operário russo (da qual Sabina Spierlman foi uma das fundadoras). Essas e outras propostas reacionárias que contaram com a objeção de Freud eram consequência da influência de Ernst Jones, um dos grandes responsáveis pela domesticação da psicanálise para que ela pudesse ter uma convivência “pacífica” com o regime nazista mesmo após o exílio de Freud em Londres. Em nome da “neutralidade”, a psicanálise oficialista foi cúmplice de inúmeras outras violações, como o regime militar no Brasil.

O pioneirismo teórico

Sabina Spielrein inicia seu tratamento com Jung em 1904 com apenas dezoito anos e, após a conclusão, forma-se em medicina. Em 1911 ingressa na Sociedade Psicanalítica de Viena, cerca de um ano após a admissão de Hielferding. Suas publicações dessa época colocam Sabina na vanguarda de questões de primeira importância para o desenvolvimento da teoria psicanalítica.

Na medicina, sua dissertação de conclusão de curso, intitulada “O conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia (dementia praecox)” foi um dos primeiros trabalhos a relatar minuciosamente a aplicação da técnica psicanalítica em um caso de esquizofrenia – termo que havia sido apenas recentemente cunhado por Bleuler para designar o que até então era conhecido como “demência precoce”. A dissertação abordava o conteúdo do tratamento de uma paciente e a relação entre sua fala e o conteúdo sexual reprimido, e, ao lado de trabalhos de Jung, Bleuler e Karl Abraham foi fundamental para efetivar a psicanálise como uma terapia efetiva em relação aos pacientes psicóticos.

Em 1912, Spielrein se adianta em nove anos em relação a Freud ao elaborar o conceito de pulsão de morte ou de destruição, em seu artigo “A destruição como causa do devir”. É a partir da análise da esquizofrenia e da neurose, da realização artística e da entrega amorosa, que ela afirma que o conflito entre as pulsões sexuais de vida e as pulsões de destruição e de morte fundem-se na criação do devir, do movimento criador.

Ainda nesse mesmo ano, publica “Contribuições para o conhecimento da psique infantil”, sendo também uma importante desbravadora do terreno da psicanálise com crianças, bem anteriormente do que a historiografia oficial celebra com Anna Freud e Melanie Klein, cuja primeira comunicação diante da sociedade psicanalítica, sete anos depois, seria precedida ainda por dez artigos de Spielrein sobre a análise de crianças. Esse tema seria central em sua produção, dando origem a outros artigos como “A origem das palavras infantis mamãe e papai – sobre o problema da origem e desenvolvimento da linguagem”, de 1920, ou “Algumas analogias entre o pensamento da criança, o do afásico e o pensamento subconsciente”, de 1923. Nesse campo, sua atuação prática também seria grandiosa, como veremos a seguir em relação à sua atuação na Rússia.

Spielrein também teve uma importante parceria com Jean Piaget, que fez análise com ela durante oito meses, seis dias por semana. Juntos, trabalharam com Eduard Claparède no Instituto de Psicologia Experimental e de Investigação do Desenvolvimento Infantil Jean Jacques Rousseau. Desenvolveram em conjunto um trabalho sobre as origens do pensamento e da linguagem e uma teoria da simbolização que, contudo, nunca foi escrita antes que seus caminhos se separassem.

Levando a psicanálise ao país dos sovietes

Após a colaboração com Piaget e Claparéde, Spielrein chegou a residir em Berlim a pedido de Freud, que julgava sua contribuição ali importante. Contudo, em 1923, Sabina partiria para a Rússia revolucionária. Ali, por intermédio de Trotski, que sempre defendera o incentivo e a plena liberdade para o desenvolvimento das investigações psicanalíticas, Spielrein seria muito bem recebida pelo governo operário. Foi convidada por Vera Schmidt a dirigir a clínica psicanalítica para crianças que aquela havia fundado, bem como a inédita experiência do jardim da infância psicanalítico (mais conhecido pelo nome oficial de Lar Experimental para Crianças ou Casa Branca), ambos construídos sob o incentivo do governo soviético, que, mesmo em meio à imensa miséria gerada pela sucessão de duas guerras e do poderoso ataque imperialista à revolução de outubro, encontrou recursos para fomentar essas fascinantes iniciativas. Spielrein também assumiu a chefia do departamento de pedologia (uma ciência soviética que estudava o desenvolvimento da infância, mais um exemplo de como as crianças tinham o primeiro plano nas prioridades do Estado operário) na Universidade de Moscou.

Fundou então, junto a Dimitrievitch Ermakov e Moshe Wulff, a Sociedade Psicanalítica na Rússia, que chegou a ser a mais numerosa de sua época. Sem dúvida, não se poderia ver como simples “coincidência” esse impressionante florescimento da psicanálise na Rússia, justamente no período revolucionário em que houve um maravilhoso desenvolvimento das artes e ciências no rastro da revolução, enquanto na Europa a psicanálise se encontrava cada vez mais estrangulada pelo ascenso do nazi-fascismo que, quando não procurou destruir diretamente a teoria psicanalítica, como com as fogueiras de livros na Alemanha, acabou por “domesticar” a psicanálise, o que gerou seus efeitos devastadores na IPA (Associação Internacional de Psicanálise) sob o comando de Ernst Jones e a conivência de Freud, que mesmo tendo sido obrigado ao exílio em Londres, desejava que a psicanálise mantivesse a posição de “neutralidade” para que pudesse sobreviver em meio ao acirramento bélico que começava a se gestar.

O período de glória da psicanálise na Rússia soviética duraria mais alguns anos, durante os quais Spielrein desenvolveu uma intensa atividade, atuando como analista didata, proferindo seminários e conferências, e emergindo como um verdadeiro pólo de atração de novos cientistas e analistas. Ocupou nesse período três cargos: o já mencionado na cátedra de Pedologia da Primeira Universidade de Moscou; o de consultora médica pedagógica da Terceira Internacional em uma vila de crianças (mais uma experiência social fruto da revolução, muito bem descritas no livro “Mulher, Estado e Revolução” da historiadora Wendy Goldman); e, finalmente, como colaboradora científica no instituto psicanalítico estatal (provavelmente o único instituto público a financiar a psicanálise no mundo nessa época). Sua influência nessa época foi decisiva para nomes como Vygotsky, Leontiev e Luria, três dos mais importantes pioneiros da psicologia soviética.

No entanto, o estrangulamento da revolução nas mãos do estalinismo significou também o fim das possibilidades de desenvolvimento da psicanálise na URSS. Considerada como uma “ciência burguesa” e coberta de injúrias pelo pensamento burocrático e castrador da camarilha que expropriou o poder dos sovietes e da classe operária, a psicanálise foi rapidamente sendo extirpada da União Soviética. Emblematicamente, a Sociedade Psicanalítica Russa foi dissolvida em novembro de 1929, o mesmo mês em que era exilado o dirigente revolucionário Leon Trotski, que havia sido e permaneceria sendo o mais fervoroso combatente pelo legado revolucionário russo, e também quem havia lutado para que a psicanálise tivesse todo o espaço e os recursos necessários para se desenvolver no país dos sovietes. Então, Sabina retornou à sua cidade natal, Rostov sobre o Don. Em 1936, a psicanálise é oficialmente proibida pelo estalinismo. Diante disso, Sabina retornou à música, à qual já havia se dedicado profissionalmente entre 1913 e 1918, e pela qual era apaixonada. A partir de 1929 foi proibida de deixar a Rússia; em 1937, seus irmãos são deportados aos Gulags; em 1942, durante a ocupação nazista, Sabina e suas duas filhas foram assassinadas pelas tropas de ocupação.

Assim, com apenas 56 anos, Sabina Spielrein morreu. Sua vida foi testemunho de uma mulher que superou o peso colossal de uma sociedade patriarcal, vencendo a patologia psíquica que lhe afligiu, a discriminação, contribuindo para o entendimento da mente humana e sendo uma pioneira na investigação. É também um testemunho valioso da grandiosa contribuição que a revolução socialista pode dar para o desenvolvimento do conhecimento humano no sentido da emancipação, bem como do poder castrador da burocratização de um processo revolucionário em curso.

Referências:

http://revistapercurso.uol.com.br/index.php?apg=artigo_view&ida=129&id_tema=54

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352012000100007


terça-feira, 14 de julho de 2020

Crise, mal-estar e violência: instrumentalização política da pulsão de morte e da moral sexual




texto apresentado originalmente no colóquio interno do Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP) em março de 2019

Conflito e dualidade em Freud: pulsões e recalque; indivíduo e sociedade

Na obra de Freud, o conflito entre forças antagônicas ocupa um lugar central. Conflitos psíquicos no seio do indivíduo marcam a fundação da psicanálise, quando Freud se dá conta que o jogo de forças entre pulsões, o seu recalque e o retorno do reprimido estão na base do adoecimento neurótico. “A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela (...)”. (FREUD, 1914, p. 10), dizia em 1914.

A dualidade e o conflito se expressam em cada passo da construção teórica freudiana. Isso se verifica em outro elemento da teoria psicanalítica no qual a dualidade é a marca indelével: a teoria das pulsões. Divididas, a princípio, entre pulsões sexuais e de autoconservação, reformuladas como pulsões do eu e pulsões objetais, depois encontram nova configuração na dualidade entre as pulsões de Eros e Thanatos, ou pulsões libidinais – conjunto que passa a englobar os dois grupos anteriormente opostos – e as pulsões de morte, que visam o retorno ao estado inorgânico, e abrangem a destrutividade e agresssividade.

Essas dualidades se apresentam como conflitos psíquicos, mas se encontram em sua origem intimamente ligadas à relação do eu com o outro, ou seja, da inserção do sujeito no tecido social. Freud explicita isso ao dizer que

A oposição entre psicologia individual e psicologia social ou das massas, que à primeira vista pode nos parecer muito significativa, perde muito de sua nitidez ao ser examinada mais a fundo. É verdade que a psicologia individual está orientada para o ser humano singular e investiga os caminhos pelos quais ele busca alcançar a satisfação de suas moções de impulso, só que ao fazê-lo, apenas raramente, sob determinadas condições excepcionais, ela desconsidera as relações desse indivíduo com outros. Na vida psíquica do indivíduo, o outro entra em consideração de maneira bem regular como modelo, objeto, ajudante e adversário, e, por isso, desde o princípio, a psicologia individual também é ao mesmo tempo psicologia social nesse sentido ampliado, porém inteiramente legítimo”. (FREUD, 1921, p. 35)



Assim, é recorrente na obra de Freud a constatação de que os conflitos psíquicos são fruto da expressão internalizada dos conflitos entre o outro/sociedade e o indivíduo. O conflito, na primeira dualidade pulsional, está ligado ao embate entre o princípio do prazer, na realização das pulsões sexuais, e o choque com a necessidade de sobrevivência, manifesta nas pulsões de autoconservação e que expressam o princípio de realidade.

A repressão das pulsões como base da vida social

Em 1908, Freud coloca grande ênfase no conflito entre a moral social e possibilidade de realização das pulsões sexuais, discutindo isso no texto “moral sexual civilizada e doença nervosa moderna”. Ali, aparecem dois aspectos fundamentais da visão de Freud sobre o tema: em primeiro lugar, de que a repressão sexual é a base da civilização, pois é o recalque daquelas pulsões que entram em conflito com a realidade externa que permite o convívio de acordo com as regras coletivas e, portanto, a vida “harmoniosa” em grandes grupos. Por outro lado, Freud chama a atenção para a forma como os exageros dessa repressão originam a neurose. A concepção de que as pulsões sofrem repressão e recalcamento sob o peso da moral – que depois ganharia sua representação psíquica no conceito do Super-eu – é desenvolvida plenamente em “Totem e Tabu”, em 1913, texto que também coloca como peça central dessa repressão a castração e o Complexo de Édipo, defendidos por Freud como universais. Em 1920, em “Além do princípio do prazer”, estende a teoria para abarcar as pulsões de morte. Em 1930, com “O mal-estar na civilização”, Freud leva a fundo os temas do conflito entre indivíduo e sociedade.

Nesse texto, Freud dá novamente grande ênfase à repressão sexual, denunciando seus excessos:

A escolha de objeto do indivíduo sexualmente maduro é reduzida ao sexo oposto, a maioria das satisfações extragenitais é interditada como perversão. A exigência, expressa em tais proibições, de uma vida sexual uniforme para todos, ignora as desigualdades na constituição sexual inata e adquirida dos seres humanos, priva um número considerável deles do prazer sexual e se torna, assim, a fonte de grave injustiça. (...) o que permanece isento de proscrição, o amor genital heterossexual, é ainda prejudicado pelas limitações da legitimidade e da monogamia. A civilização atual dá a entender que só quer permitir relações sexuais baseadas na união indissolúvel entre um homem e uma mulher, que não lhe agrada a sexualidade como fonte de prazer autônoma e que está disposta a tolerá-la somente como fonte, até agora insubstituível, de multiplicação dos seres humanos. (FREUD, 1930, p. 68-69)

E agrega um julgamento categórico a essa moral: “isso, naturalmente, é algo extremo. Sabe-se que demonstrou ser inexequível mesmo por breves períodos”.

A essa questão, talvez se possa objetar que a severidade da moral sexual já não é a mesma de 88 anos atrás. Mas percebemos a permanência desses valores, por exemplo, em uma recente declaração do Papa: “O corpo humano não é um instrumento de prazer, mas sim o lugar de nosso chamado ao amor, e no amor autêntico não há lugar para luxúria” (apud GLASS, 2018). Na mesma ocasião, o mais importante líder religioso do mundo afirmou que a forma elementar do matrimônio é o casamento heterossexual, que respeita a “polaridade masculina e feminina”. Ou seja, ipsis litteris a moral denunciada por Freud como inexequível há quase um século.

Não parece casual que essa instituição, que visa regulamentar do modo mais estrito, repressor e normativo a vida sexual de seus fiéis, seja a fonte recorrente de casos de abuso sexual contra crianças, a ponto de o papa ter que assumir e pedir desculpas publicamente (PIMENTEL, 2018) por milhares e milhares de casos ao redor do mundo, envolvendo todos os níveis da hierarquia eclesiástica. É, ao mesmo tempo, uma brutal confirmação da constatação de Freud sobre a impossibilidade de levar esse programa adiante, mas também da hipocrisia dessa moral e da conivência de suas transgressões1. Cabe notar, nesse exemplo, que o retorno do recalcado na forma de agressão sexual a crianças não é apenas um exemplo de que a norma “se contorna” de forma hipócrita, mas que ela se torna o fermentador de uma sexualidade violenta e perversa, que toma um outro vulnerável como objeto sexual à revelia.

Freud também aponta a necessidade de reprimir a pulsão de morte dirigida ao outro, ou seja, a agressividade: “A existência desse pendor à agressão, que podemos sentir em nós mesmos e justificadamente pressupor nos demais, é o fator que perturba nossa relação com o próximo e obriga a civilização a seus grandes dispêndios” (FREUD, 1930, p. 77).

O delicado balanço entre renúncia pulsional e harmonia social

É simples pressupor que, quanto maiores forem os ganhos individuais que cada um percebe na vida em sociedade, tanto mais factível será sua renúncia pulsional em nome da coesão social. O princípio de realidade dita ao indivíduo, que tem a segurança de sua existência assegurada pelo grupo, que se esforce para sobrepujar a satisfação de seu princípio de prazer imediato, ligado às pulsões sexuais ou agressivas.

Se, portanto, nos encontramos em um momento de crise social, em que o grupo não se mostra capaz de garantir nossa existência como antes, a coesão desse tecido e do equilíbrio dessa renúncia individual em nome do coletivo começa a ser questionada. Nas palavras de Freud, “(...) as relações mútuas entre os homens são profundamente influenciadas pela medida de satisfação dos impulsos possibilitada pelos bens existentes” (FREUD, 1927, p. 22).

Vivemos em uma sociedade de classes, em que os bens existentes e, portanto, a possibilidade de satisfação pulsional é desigual aos indivíduos (sem falar na manipulação das pulsões e as transformações de “necessidades” que se alteram de acordo com os padrões sociais existentes). Contudo, momentos de prosperidade podem garantir o mínimo para que a coesão social se mantenha, contanto que a percepção de que “a vida vai melhorar” seja um horizonte constante. Os pais muitas vezes estão dispostos a maiores e mais duras renúncias se vislumbram a perspectiva de que seus filhos tenham uma vida com menos renúncias, projetando na próxima geração uma satisfação da qual abdicam – transferem para seus filhos, como uma projeção narcísica de si mesmos, a realização que almejam. Assim, o Brasil manteve um equilíbrio e uma relativa “paz social” ao longo do último período, e, não à toa, identificando a gradual melhora de vida à atuação de um líder carismático – que, como desenvolve Freud, cumpre papel análogo ao pai na vida psíquica das massas –, com uma expressiva parcela da população vendo a volta de Lula como perspectiva de saída para a crise.

Ao falar das renúncias impostas pela vida em sociedade, Freud diz:

Quanto às limitações que se aplicam apenas a classes determinadas da sociedade, nos deparamos com condições graves e também jamais ignoradas. É de se esperar que essas classes desfavorecidas invejem as vantagens das privilegiadas e façam de tudo para se livrar de seu próprio acréscimo de privações. Quando isso não for possível, uma medida constante de descontentamento se imporá dentro dessa cultura, o que pode levar a rebeliões perigosas. Se, porém, uma cultura não conseguiu ir além do ponto de que a satisfação de certo número de seus membros tenha como pressuposto a opressão de outros, talvez a maioria – e esse é o caso de todas as culturas atuais –, é compreensível que esses oprimidos desenvolvam uma hostilidade intensa contra a cultura que por meio de seu trabalho eles mesmos possibilitam, mas de cujos bens lhes cabe uma cota muito pequena. (...) Não é preciso dizer que uma cultura que deixa insatisfeito um número tão grande de membros e os incita à rebelião não tem perspectivas de se conservar perpetuamente, nem o merece. (FREUD, 1927, p. 29-30)

Assim, podemos concluir que, quanto mais aguçada a crise, e quanto mais os efeitos dela se sintam sobre os ombros dos mais pobres, maior será o nível de esgarçamento social, e menor a disposição à renúncia pulsional. Abre-se um cenário de descontentamento social em que, se não é apresentado nenhum projeto coletivo e social capaz de projetar uma recompensa a uma renúncia que é maior a cada dia, haverá uma predisposição maior à manifestação das pulsões individuais se sobrepondo às renúncias feitas em nome do coletivo.

Crise social no Brasil e a reorganização da repressão no jogo político

É nesse contexto que um projeto político de características muito particulares, e de um discurso muito distinto do que até então se colocava como o “acordo mínimo” social, se tornou massivo no Brasil: o “bolsonarismo”. Para discutí-lo, recorremos a definições que Vladimir Safatle aponta como características do fascismo (SAFATLE, 2018).2

Em primeiro lugar, aponta o “culto à violência”. Diz ele:

trata-se de acreditar que a impotência da vida ordinária e da espoliação, ela vai ser vencida através da força individual, daqueles que, enfim, teriam o direito de sair armados (...) de falar o que quiser sem se preocupar com aquilo que eles chamam de ‘ditadura do politicamente correto’.

Ou seja, frente a uma percepção social de que a renúncia à agressividade vem sendo paga com a agressão – por meio de assaltos, desemprego, corrupção estatal ou outro tipo de violência – o que o líder autoriza é a libertação de minha agressividade individual. Na livre expressão desta eu posso retomar, por minhas próprias forças – mas com a legitimação do Estado – o “meu direito” aviltado. É, na perspectiva civilizacional colocada por Freud, um claro retrocesso, em que o “direito individual” se impõe pela força. Como afirma Safatle, “o fascismo, nesse sentido, oferece uma certa forma de liberdade”; liberdade de não reprimir minha agressividade pulsional. É a “liberação da violência por aqueles que não aguentam mais ser violentados”.

Contudo, a liberação dessa agressão abrange um escopo que é conjugado com o acréscimo da repressão sexual ao “desviante”, que terá também uso político. O discurso e a mobilização afetiva que dão coesão a uma massa, como aponta Freud, exigem sempre a hostilização de um inimigo, cuja existência, ao mesmo tempo em que dá o sentido de unidade ao grupo, é visto como uma ameaça à coesão deste.

Aqui, um discurso repetido à exaustão transformou em “inimigos” certos grupos sociais. Em primeiro lugar, cria-se um inimigo responsável pela situação de miséria: com diversos atores, e vindo desde 2015 sendo elaborado nos distintos níveis de comunicação de massas – televisões e jornais por um lado, e redes sociais por outro – se estabeleceu como o culpado por todos os males o PT, seus governos, seus simpatizantes. A força do discurso deriva não apenas de sua repetição incessante, mas de tomar elementos da realidade – os escândalos de corrupção nas estatais, por exemplo – para se forjar sobre eles uma narrativa muito mais abrangente que sustenta o ódio, peça fundamental para dar contornos e coesão ao grupo, cujo propósito passa a ser se opor aos “petistas” e “esquerdistas”. Aqui, também, é fundamental a identificação de qualquer membro não pertencente ao grupo bolsonarista como pertencente ao “outro grupo”. Isso garante não apenas a coesão do grupo, mas a anulação da validade do discurso do outro. Essa simplificação da consolidação de um “nós” versus um “eles” é fundamental para ver os dois grupos como uma massa homogênea, dando-lhe uma consistência imaginária – no sentido de Lacan – aumentando a identificação do grupo ao qual se pertence e a impenetrabilidade a argumentos que possam interferir em sua coesão. Desta forma, enunciadores tão díspares quanto Folha de S. Paulo, The Economist, Miriam Leitão, Francis Fukuyama e até Marine Le Pen são taxados como “esquerdistas”3.

Pelo lado da repressão sexual, o apoio ao acréscimo da agressividade e a legitimação da violência se baseou em sólidos tabus, atribuindo ao “outro” tudo o que seja hostil às normas morais do grupo: da homossexualidade, transgeneridade e feminismo, à pedofilia e o incesto4. Para tornar mais virulenta a reação, atribui-se ao grupo antagônico o propósito de “doutrinar as crianças” a se enquadrarem nas condutas sexuais desviantes, o que os coloca como ameaçadores dos valores morais – que passam a ser os pilares do mito de uma ordem capaz de trazer novamente a harmonia e coesão social. A violência contra esses grupos é legitimada, o que é visto como a proteção frente à uma “ameaça moral”. O medo das próprias pulsões sexuais recalcadas também é expresso como ódio, e, assim, instrumentalizado politicamente.

Sobre isso, Safatle argumenta que “Essa insensibilidade [em relação à violência com grupos vulneráveis] expressa um desejo inconfesso de que as estruturas de visibilidade da vida social não sejam alteradas”, ou seja, que a “gramática do visível” mantenha de fora, como não reconhecido, não dito, impossibilitado de existir, todo aquele que foge à norma repressiva ditada por essa moral. Daí que diga inclusive que qualquer identidade dissonante é uma “invenção”, como está implicado no conceito de “ideologia de gênero”; ou que as crianças tornam-se gays ou trans por serem “doutrinadas”, e não por seu desejo.

Trata-se, em primeiro lugar, frente à insegurança do desemprego, da falta de direitos sociais, da instabilidade social, de dar ao medo a resposta de um “retorno a um pai protetor”, sob a forma de um líder pretensamente forte, severo e “incorruptível”; isso responde também ao medo que a mudança trazida pela “erosão dos valores tradicionais” traz. A simbologia criada aí gera uma coesão entre o grupo, e uma ilusão de proteção sob a direção do líder. Garantida a coesão em torno do medo, e da promessa de redenção frente à situação de insegurança, a manipulação é muito mais fácil, e sua crença na agressividade dirigida aos grupos “culpados” pode ser estimulada. É um jogo com a tendência social paranoica que surge da situação de instabilidade, mas que é reforçada e instrumentalizada por esse discurso político no qual a “nossa” identidade ameaçada encontra um inimigo responsável por sua desagregação, e que deve, portanto, ser destruído.

Também se vê como “aceitável” abrir mão da liberdade e da responsabilidade por seu destino diante da tutela do líder, que tomará as decisões. É uma infantilização semelhante à descrita por Freud nas religiões. É pela manipulação dos afetos, muito mais do que por qualquer argumento, que se obtém o efeito político desejado. Assim, também se obtém o efeito de “blindagem” contra qualquer argumentação oposta.

Politicamente, o que garante a adesão de massa a essa ideologia, é a canalização da revolta latente com o atual estado de coisas. O bolsonarismo não poderia ser criado artificialmente, e duas pré-condições histórico-sociais são a base para sua ascensão como “porta-voz” dessa revolta: a crise econômica e a traição dos que antes eram vistos como os representantes políticos dessa massa. É no caldo de cultura do ódio ao PT – ainda que, como apontamos, a figura paterna de Lula se mantenha fortemente preservada em meio a essa erosão – e da desagregação do tecido social, do medo, do desemprego, da violência, que surge essa revolta. E, como aponta Safatle, trata-se da “colonização do desejo anti-institucional pela própria ordem”. A revolta contra as instituições de um regime político no qual a população não se vê representada, paradoxalmente é capitalizada pela crença de que um governo forte, autoritário e supostamente “livre e independente” (como dizia a propaganda) vai restaurar a “ordem” por meio de uma “liderança acima da lei”, que pode expressar livremente aquilo que não pode ser dito. Aquilo, também, que “eu queria dizer mas que é vetado pela Lei”.

Assim, como aponta Safatle, é importante que o líder seja “cômico”, uma “mistura de militar e palhaço de circo”, pois assim suas proposições podem “circular com baixa fricção”, como “brincadeiras” (Freud fala, sobre o chiste, que mensagens que não seriam toleradas pela censura podem circular sob a proteção da “piada”). Mas “o que é real e o que é bravata” fica a critério de cada um: se eu for gay, posso dizer que sua homofobia é “bravata”. Mas só o líder sabe até onde está disposto a concretizar seu discurso – ainda que, é claro, isso dependa de outros poderes reais que estão em jogo.

Desde que a primeira versão deste trabalho foi escrita, ainda antes da eleição de Bolsonaro, diversos eventos corroboraram sua perspectiva. Entre os muitos casos, podemos citar o da empresária Elaine Perez Caparroz, de 55 anos, que foi espancada por quatro horas por Vinícius Batista Serra, de 27 anos, após um encontro que marcaram pela internet. O agressor diz ter tido um “surto” e não se lembrar do ocorrido (LEMOS; BARBON, 2019). O caso é uma expressão que ganhou visibilidade de um processo de aumento da violência misógina cujo alcance ainda está por se ver. Na primeira semana de 2019 foram registrados 21 feminicídios e 11 tentativas (PINA, 2019); até o dia 4 de fevereiro, eram 126 mortes e 67 tentativas registradas (BOND, 2019). Outro exemplo de “liberação” dessas pulsões agressivas legitimadas pelas mudanças sociais é o massacre na escola de Suzano com 10 vítimas fatais até o momento. Após o fato, diversos outros casos de jovens planejando ações semelhantes vieram à tona: em Pontalina (GO) (ADOLESCENTE, 2019), Bom Jesus de Goiás (GO) (CAVALCANTI, 2019), Porto Alegre (RS) (GROSS, 2019), Rio de Janeiro (RJ) (JOVEM, 2019) e Nova Iguaçu (RJ) (MAGALHÃES, 2019) são alguns exemplos. Confome apontou o psicanalista Christian Dunker em entrevista após o atentado em Suzano, há

(...) uma mutação do discurso dominante sobre o que é a violência, e o que é a violência “aceitável”, “compreensível” ou “justificável” dentro da sociedade brasileira. Isso altera a nossa realidade psíquica. E essa mutação promete ser muito nefasta, carregando, inclusive, um sentimento de escalada: a violência vem aumentando, num ritmo acelerado e errático. (SAYURI, 2019)

Sintetizando, no cenário atual a crise das estruturas sociais abre espaço à emergência de novas perspectivas de laço social, e o projeto político de extrema-direita de Bolsonaro vem se mostrando apto a instrumentalizar a revolta social e a agressividade para fortalecer sua figura de líder autoritário (pai) capaz de “apontar uma saída”. Contudo, as já evidentes dissensões em seu bloco político colocam uma dúvida sobre a perspectiva de que seja capaz se manter nesse lugar simbólico.



Referências bibliográficas:

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- TRINDADE, N; MONTEIRO, T. Militares entram na mira de ‘guru’ de Bolsonaro. In: Estadão. Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,militares-entram-na-mira-de-guru-de-bolsonaro,70002759116. Acesso 30/03/2019.



1 No mesmo trecho, Freud diz: “A sociedade civilizada [no caso citado, as cúpulas das igrejas] viu-se obrigada a fechar os olhos para muitas transgressões que, segundo suas normas, deveria punir”.

2 Apesar de não considerarmos o governo de Bolsonaro como “fascista” por não atender às condições sociais que engendraram essa forma política particular nas primeiras décadas do século XX, essa é uma discussão que extrapola os limites desse trabalho. Utilizamos a fala de Safatle para debater as características de seu projeto político conforme nos parece pertinente.

3 Expressivamente, após o bolsonarismo ser colocado no governo e, consequentemente, mostrar suas alas e fissuras internas, a primeira reação hostil de um setor bolsonarista contra o outro (Olavo de Carvalho contra Mourão) foi a de tentar identificá-lo a valores atribuídos ao “outro” imaginário, o “inimigo”. Disse o “guru”: “Por que, durante a campanha, o general Mourão jamais mostrou sua verdadeira face de desarmamentista, de adepto do abortismo, de protetor de comunistas, de inimigo visceral do bolsonarismo, de amante da mídia inimiga? Ele fingiu-se de companheiro fiel até chegar ao cargo” (TRINDADE; MONTEIRO, 2019).

4 A imensa influência que isso teve nas eleições pode se vislumbrar por meio de pesquisa que afirma que 83,7% dos eleitores de Bolsonaro acreditaram na sua versão sobre o “kit-gay” que circulou nas redes. (REVISTA FÓRUM, 2018). Outra pesquisa aponta esse número como 36% do eleitorado total, enquanto 15% disseram acreditar que Haddad defendeu o incesto em um livro de sua autoria. (EL PAIS, 2018).